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Tricontinental

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Amílcar Cabral e Fidel Castro na Sierra Maestra após a Tricontinental de Havana, 1966

Cerca de 500 participantes, oriundos de 82 países, compareceram em Havana para a Conferência Tricontinental, que se realizou entre 3 e 15 de janeiro de 1966.

A Tricontinental era entendida como uma necessidade urgente dos países e dos movimentos revolucionários que, nessa época, combatiam o colonialismo e o imperialismo. Após diversas tentativas frustradas de organização, o dirigente marroquino exilado Mehdi Ben Barka assumiu a preparação da Conferência.

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Cartaz com logotipo da Conferência Tricontinental, Havana, 1-13 de janeiro de 1966

No entanto, Ben Barka seria "raptado" em Paris, no dia 29 de outubro de 1965, com a intervenção direta dos serviços secretos franceses, em colaboração com o ministro do Interior de Marrocos, Mohamed Oufkir.

O assassinato de Ben Barka não impediu a realização, em Havana, da Conferência Tricontinental de Solidariedade dos Povos de África, Ásia e América Latina, em que participou uma delegação do PAIGC, dirigida por Amílcar Cabral.

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Representação do PAIGC na Tricontinental, Havana, Cuba, 3-16 janeiro 1966 (da direita para a esquerda: Amílcar Cabral, Domingos Ramos, Pedro Pires, Baro e Vasco Cabral)

Foi enorme o impacto de Amílcar Cabral no decorrer da Conferência, onde explicitou e defendeu as posições do seu partido e, em simultâneo, as das restantes organizações que combatiam o colonialismo português. Nesse esforço, contou também, em especial, com o papel desempenhado pelo seu amigo e camarada Mário Pinto de Andrade.

Oscar Oramas, jovem diplomata que então exercia as funções de embaixador de Cuba em Argel, acompanhou a delegação do PAIGC presente na Tricontinental e viria a ser, em Conacri, o elemento fundamental no desenvolvimento das relações políticas e militares entre Cuba e o movimento de libertação da Guiné-Bissau e Cabo Verde - sublinhou a impressão deixada pelas intervenções de Cabral.

Como se pode observar nas fotografias com Fidel Castro, que o acompanhou à Sierra Maestra - onde se desenvolvera a guerrilha contra a ditadura de Fulgencio Batista, que viria a ser derrubada em 1 de janeiro de 1959 - estabeleceu-se evidente camaradagem e entendimento entre Cabral e Castro, o que permitiu, também, o reforço do apoio prestado por Cuba em matéria de armamento e de treino de pessoal militar da Guiné e de Cabo Verde e de apoio sanitário e médico.

Essa solidariedade estendeu-se a muitos outros setores, designadamente através de bolsas de estudo concedidas por Cuba a jovens guineenses e cabo-verdianos, em especial no âmbito da Escola-Piloto que o PAIGC formou em Conacri.

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Amílcar Cabral e Fidel Castro na Sierra Maestra após a Conferência Tricontinental em Havana, Cuba, 1966

Na Tricontinental, foi particularmente relevante a mensagem que lhe dirigiu o ausente Che Guevara, que combatia na Bolívia, apelando ao lançamento de "dois, três ... muitos Vietnames" enquanto caminho para derrotar o imperialismo norte-americano. O apoio à luta heróica do povo vietnamitaa era então uma questão central da política internacional e da orientação dos movimentos revolucionários.

A revolução cubana desempenhou nessa época um papel crucial nos debates políticos em torno das soluções para a luta anti-colonialista, anti-imperialista e em defesa dos direitos civis.

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Che Guevara, na Bolívia, 1967. Foto de autor anónimo, Museo Che Guevara (Centro de Estudios Che Guevara, Havana, Cuba)
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Excerto de cartaz cubano, da autoria de René Mederos, de apoio à luta da Frente Nacional de Libertação do Vietnam do Sul

A Tricontinental viria também a criar a OSPAAAL - Organização de Solidariedade entre os Povos da Ásia, África e América Latina (OSPAAAL), tendo em vista dar continuidade às suas decisões políticas e apoiar as lutas de libertação e de defesa dos direitos humanos em todo o mundo, organização que se manteria ativa até 2019.

Três anos após o início da luta armada na Guiné-Bissau, as vitórias políticas e diplomáticas obtidas por Amílcar Cabral no âmbito da Tricontinental foram muito importantes para o seu posicionamento internacional e para o reconhecimento da luta desenvolvida pelo PAIGC contra o colonialismo português.

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Desenho de Nuez celebrando a solidariedade de Cuba e de outros movimentos revolucionários com a luta do povo vietnamita, por ocasião da Tricontinental. René de la Nuez foi um artista de origem colombiana radicado em Cuba.